Já os antigos nos ensinavam que um corpo são depende de uma mente sã. Se
agora eu perguntasse: "Qual dos leitores sabe que tem uma mente sadia?" Na certa muitos dedos se
levantariam. "Eu!... Eu!... Eu!..."
E o que é, na verdade, uma mente sadia?
Richard Bach, em seu livro "Ilusões", nos conta uma história interessante.
Diz ele:
"Uma vez havia uma aldeia de criaturas no fundo do leito de um grande rio
cristalino. A corrente do rio passava silenciosamente por cima de todos eles, ricos e pobres, bons e
maus. Cada criatura, a seu modo, se agarrava fortemente às plantas e pedras no fundo do rio, pois agarrar-se
era seu modo de vida e resistir à corrente era o que cada um tinha aprendido desde que nascera. Mas uma das
criaturas disse, por fim:
'Estou farto de me agarrar. Embora não possa ver com meus próprios olhos,
espero que a corrente saiba para onde está indo. Vou soltar-me e deixar que ela me leve para onde
quiser. Se me agarrar, morrerei de tédio!'
As outras criaturas riram-se e disseram: 'Louco! Se você se soltar, essa corrente o lançará sobre as pedras
e sua morte será mais rápida que a causada pelo tédio!'
Mas ele não lhes deu ouvidos, soltou-se e foi lançado sobre as pedras. Mas
com o tempo, como ele se recusasse a tornar a se agarrar, a corrente o levantou,
livrando-o do
fundo, e ele não se machucou mais.
As criaturas exclamaram: 'Vejam, um milagre! Uma criatura como nós, e no
entanto voa! É o Messias que chegou para nos salvar!'
E ele disse: 'Não sou mais Messias do que vocês. O rio tem prazer em nos
erguer à liberdade, se ousamos nos soltar. O nosso verdadeiro trabalho é essa viagem, essa aventura!'
Esta história retrata a vida de todos nós. Vivemos agarrados tenazmente a
tudo aquilo que nos ensinaram como sendo o modo correto de se viver, e procuramos de todas as formas
adaptar as circunstâncias à
nossa vontade e não pensamos jamais em nos ajustarmos à vida que nos
rodeia. Assim, se no trabalho as coisas não vão bem, culpamos o comportamento dos colegas, do chefe, etc., e
não admitimos que, se
fossemos mais flexíveis, não seríamos atingidos pelo procedimento dos que
nos cercam.
À medida que nos agarramos às plantas do fundo do rio para evitar que a
correnteza nos carregue, com medo dos novos rumos e novos mundos que iremos conhecer, nossa mente
adoece. A mente não está confinada aos nossos limites tão mesquinhos: nossa mente anseia por
ampliar-se, por tocar o universo. E,
quando a mente adoece, o corpo somatiza. Aí aparece aquela estranha doença
nas pernas, porque a situação que vive no momento "não pode continuar assim", ou aqueles acessos
de asma, porque "não pode respirar o ar da sua casa", ou ainda aquela úlcera ou aquela gastrite por
estar "engolindo situações" que lhe
fazem mal.
Se o problema está na mente, não adianta querer sanar o corpo, porque
qualquer terapia não seria definitiva.
O primeiro passo para a verdadeira cura está na mudança
interior, na capacidade de saber procurar a própria felicidade, na compreensão e na adaptação constante às
situações que se apresentam. A
mente se solta, aprende a curtir a maravilhosa experiência que é viver
porque, se soltarmos as plantas do fundo, "o rio terá prazer em nos erguer à liberdade e o nosso verdadeiro
trabalho é essa viagem, essa
aventura".
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Texto de Márcia Villas-Bôas