O DIA EM QUE O SOL ENCONTROU-SE COM A LUA

 

 

            Eu ando de passo leve prá não acordar o dia / Sou da noite a companheira mais fiel  que ela queria... / Eu sou mistério do sol / Eu sou a noite do tempo / Ele é o dia da vida

                              Raul Seixas 

   

       

          Conta-se que, há muito, o sol andava muito tristonho pela terra. Seus raios já não eram tão "fortes" como antes e por mais que fizesse, sempre era encoberto  por alguma nuvem escura que percorria o sol num forte vendaval .

          Os pássaros, as flores, os animais... todos se questionavam  sobre o distanciamento do sol.

          Numa manhã, que seria bem mais bonita se o sol estivesse com sem esplendor total, uma ave de vôo inigualável chamada condor, arriscou-se e quis tentar conversar com o astro rei.

          O sol, percebendo a dificuldade do condor para se aproximar, tranqüilizou-o dizendo:

          - Linda ave de vôo quase perfeito, por que queres chegar a mim, se estou por toda a parte deste planeta?

          O condor, ouvindo a pergunta do rei,  lhe respondeu, já exausto pelo vôo:

          - Gostaria muito de saber o que lhe deixa tristonho. O planeta está quase sem tua luz:  os pássaros já não sabem mais para onde ir; as flores, principalmente o girassol, já não sabem mais se ficam acordadas ou se dormem; os animais já não sabem mais se ficam em suas tocas ou se saem para caçar; as lavouras estão se perdendo... Tudo está tão confuso, que resolvi arriscar este vôo e lhe perguntar qual seria o problema,

          O sol, percebendo a preocupação do condor, lhe disse:

          - Não sabia que estava causando tantos transtornos! Confesso que me absorvi em meus pensamentos , e não me dei conta do que estava fazendo. Posso tentar solucionar isto tudo; Prometo tentar...

          O condor, percebendo a "dúvida" que ficou nas palavras do sol, ainda insistiu na mesma pergunta:

          - Mas o que está ocorrendo, que lhe tirou a atenção para o resto do mundo? poderia lhe ajudar, se você me dissesse o motivo.

          O sol,  ainda encoberto, disse-lhe:

          - Acho difícil alguém me ajudar... muito difícil mesmo... E já que está disposto a conversar, diga-me: você já amou alguém condor?

          O condor apoiou-se nas encostas de uma montanha, abaixou a cabeça sem olhar para o abismo e respondeu:

          - Sim, Já amei... Amei uma linda ave, que não era um condor... amei e sonhei...muito...  Por que você me pergunta isto? Você que é o sol! Que possui bem mais dotes do que eu; que possui o poder em suas mãos? Não é possível que não consiga conquistar o amor de sua amada? Qualquer dama se renderia à sua luminosidade,  ao seu esplendor, ao seu magnetismo natural. ao seu calor...

          E antes mesmo que o condor continuasse, o sol o interrompe dizendo:

          - Qualquer uma, menos ela...

          O condor,  já intrigado de tanta curiosidade, pergunta:

          - Quem sol? Quem é ela? Que dama lhe ofusca os olhos?

           O sol, então, olhou para o infinito e disse-lhe com semblante bem tristonho:

         - A lua... a lua, amigo!

          Neste instante, o condor,  em respeito ao sol, segurou seu sorriso e disse-lhe:

          - A lua? Como você se apaixonou por ela? Como isso aconteceu?

         -O sol, percebendo o espanto do condor, lhe respondeu:

          - Aconteceu, que nos encontramos algumas vezes... Em frações de segundos em alguns lugares, mas nos encontramos! Por que você está surpreso com isso?

          - O condor, percebendo que o sol já estava se exaltando, tentou explicar:

          -  Por favor amigo, não quero que fique nervoso comigo. Apenas estranhei a lua ser sua amada...

          - Como estranhou? Nunca lhe perguntei a quem você amou, e se tivesse dado certo, você não me responderia da maneira como me respondeu!

          O condor então disse:

          - Sim, você está certo... Desculpe-me! O que estranhei, foi que você viu muito pouco esta bela criatura para poder se apaixonar por ela.

          Neste instante , o sol, respondeu:

          - Muito pouco mesmo... mas nestas poucas vezes, enxerguei dentro dos olhos dela. Vi toda a beleza que ela trazia dentro de si... enxerguei o seu coração ... senti-o bem próximo a mim...acreditei naquele olhar...vi cumplicidade... vi entrega... vi amor...

          O condor observou que o sol lhe falava, mas seus olhos ficavam fixos no infinito, procurando, talvez, os olhos da lua. então disse-lhe:

          - Ora, ora, amigo! Tenho que pensar em uma maneira de lhe ajudar. Lhe ajudando, estarei sendo ajudado... não só eu, todo o planeta!

          - O sol emocionado perguntou:

          - Como você poderá me ajudar?

          - Devagar amigo! Primeiro preciso  encontrar com alguns amigos de hábitos noturnos e depois lhe darei a resposta.

          E o condor saiu voando mais que rapidamente e em menos de cinco horas, quase à noitinha, apareceu junto à encosta de uma montanha, onde o sol já se reclinara para adormecer e disse-lhe:

          - Veja amigo, o que trouxe junto a mim! São vários amigos de hábitos noturnos e todos eles estão dispostos a lhe ajudar, se você continuar durante o dia no céu, mais forte do que nunca! É esta a única condição imposta por eles para lhe ajudar!

          O  sol, intrigado com tantos animais ao seu redor, perguntou:

         -  Então digam, o que fariam?

          Neste instante, uma coruja com a fisionomia bem experiente e sábia, disse-lhe:

          - Levaríamos à lua seus recados, suas notícias... Tudo que precisar!

          O sol neste momento bramiu com grande satisfação ao dito pela coruja. Depois sorriu aliviado dizendo:

          - Então digam a ela uma "coisinha" muito importante, que nunca tive tempo de dizer, pois quando nos víamos, ficava tão preocupado pelo pouco tempo do encontro, que esquecia de lhe dizer... Digam a ela que a amo! Que a amo mais que tudo! Que estarei sempre esperando para nos encontrarmos! Que serei guardião do dia e ela será a guardiã da noite... e trabalhando juntos, os dias e as noites passarão sem erros e nos veremos novamente! E quando nos encontrarmos novamente, a amarei mais e mais... nem que demore meio século para este encontro, mas a amarei!

          Os animais se emocionaram com a clareza e transparência do sol. Agora sim, ele foi sincero em seu sentimento. Ele não o escondeu entre as nuvens escuras e não teve medo de falar o que sentia.

          E a noite chegou.

          A primeira a levar o recado foi a coruja. Do alto de uma árvore,  disse à lua as palavras do sol.

          Naquela noite, uma chuva muito branda mas "molhada", molhou a terra.

          Cada gota de água de chuva, representava  as  emoções e sensibilidade da lua. Cada gota de chuva representava lágrimas de amor da lua... lágrimas de esperança... lágrimas de satisfação... lágrimas de confiança... Agora a lua sabia que não estava só... e um dia, se encontraria novamente com o sol... nem que demorasse meio século...mas o encontraria... na imensidão do tempo...

Autor desconhecido

 

 

          Ao "sol" e à "lua" que existe dentro de todo ser humano.